No Iraque, ocupado por tropas americanas e
britânicas, com a presença simbólica de vários outros países, curdos, xiitas e
sunitas enfrentam-se como antes de haverem sido colocados sob o mesmo governo.
A existência do Kuwait como país independente foi contestada até recentemente
pelo Iraque, assim como as fronteiras com o Irã e a Arábia Saudita. E nada
indica que a eliminação de Saddam Hussein mudará essa percepção. O petróleo
continua a ser extraído e exportado por grupos estrangeiros, e terroristas de
diversos matizes continuam a tentar impedir seu fluxo através dos oleodutos
desenhados há mais de um século.
Os turcos, com seu Estado laico consolidado,
continuam a negar o massacre armênio e a reprimir a população curda
remanescente no leste do país. A Jordânia, mantida por anos sob proteção dos
britânicos, aproximou-se ora do Iraque, ora do Egito, mas nunca deixou de
sentir a fragilidade oriunda das características de seu território e de sua
população. A ocupação da margem ocidental do rio Jordão, em 1948, introduziu no
país um contingente palestino que até os dias de hoje influencia as possíveis
soluções para o problema da Palestina.
No Líbano, após anos de uma sangrenta guerra
civil, as tradicionais rivalidades étnicas deram lugar a uma nova força,
representativa da população xiita majoritária no sul do país e organizada sob o
pretexto de combater a presença israelense. O Hezbollah se transformou na
principal força armada não estatal da região, recebendo apoio da Síria e do Irã
e ajudando a aprofundar as diferenças étnicas no Líbano e a influência de uma
Síria que nunca aceitou a extração de uma parte de seu território pelos
cristãos franceses.
No território da Palestina – onde a
publicação da Declaração Balfour em 1917 havia anunciado a disposição britânica
para a criação de um “Lar Nacional Judaico”, conceito abandonado, após duas
décadas de conflitos, em favor da ideia de uma divisão para a criação de dos
Estados etnicamente caracterizados até que, finalmente, a questão foi entregue
para decisão das Nações Unidas em 1947 –, continuam a se manifestar as consequências
de políticas adotadas logo após a ocupação da região no final da Primeira
Guerra Mundial. Os judeus conseguiram criar um Estado forte e independente e,
após várias guerras, ocupar todo o território da Palestina histórica, do
Mediterrâneo até o rio Jordão. Ao longo da última década, a constatação da
impossibilidade de absorver, expulsar ou controlar uma população de milhões de
palestinos, e assim manter o controle dos territórios ocupados em 1967, levou o
governo israelense a buscar alternativas, entre as quais a retirada unilateral
de parte do território conquistado e a construção de uma barreira de separação
física entre as populações árabe e israelense. Nenhuma dessas medidas,
entretanto, aponta para uma solução que, no curto ou médio prazo, atenda
simultaneamente às reivindicações palestinas de criação de um Estado
independente e às aspirações israelenses de manter dentro de suas fronteiras os
grandes assentamentos construídos ao longo das últimas quatro décadas. Tudo
indica que as consequências das ações de Sykes e Picot continuarão a ser
sentidas ainda por muito tempo.