domingo, 1 de abril de 2012

O MANDATO DA PALESTINA




Quando a Conferência de San Remo estabeleceu o mandato francês para a Síria e o Líbano, em 1920, os britânicos receberam o Mandato para a Palestina, incluindo a Transjordânia. Quando Faisal foi desalojado da Síria pelos franceses, seu irmão Abdulah reuniu um pequeno exército e anunciou sua intenção de expulsar os estrangeiros; mas a caminho do norte estabeleceu-se em Amã, na Transjordânia, consolidando seu controle sobre as tribos e vilarejos do território que os britânicos haviam separado da área que abrangia a totalidade da Palestina, destinada ao mandato.

No território remanescente, a oeste do rio Jordão, os britânicos teriam de confrontar as consequências das promessas concomitantes feitas aos sionistas e às lideranças árabes durante a guerra e, em 1921, promulgaram uma constituição baseada na cooperação entre árabes e judeus. A impossibilidade de criar um Estado constitucional, entretanto, perpetuou o controle britânico, mas tentando cooptar as duas comunidades na administração do território. A liderança judaica engajou-se prontamente, porém os árabes se recusaram a cooperar. Assim, ao longo dos anos seguintes, fortaleceram-se as instituições judaicas que dariam origem ao governo israelense em 1948, enquanto a liderança árabe palestina mantinha-se dividida, rejeitando a imposição do Mandato inglês.

A imigração judaica na Palestina aumentou progressivamente até 1925. Sua interrupção eliminou a principal razão para a tensão entre árabes e judeus até que a Crise de 1929 voltasse a alimentá-la. Nesse mesmo ano, ocorreram os grandes confrontos que culminariam com o massacre da comunidade judaica em Hebron, a emergência do mufti de Jerusalém, Amin al-Husayni, como líder dos árabes palestinos e com a percepção britânica de que não seria possível acomodar os árabes com a continuidade da imigração judaica. A partir daquele ano, a política britânica para a região direcionou-se cada vez mais para o apaziguamento árabe, especialmente após a intensificação da fuga de judeus alemães perseguidos pelo regime nazista que encontravam na Palestina o único destino viável. 

Em 1936, os árabes formaram um comitê destinado a unir seus esforços diante da liderança judaica, e os britânicos enviaram uma delegação liderada por lorde Peel, que concluiu pela necessidade de dividir a Palestina em dois territórios. O reinício da violência promovida pelos árabes logo se transformou em uma guerra civil que durou três anos, provocou milhares de mortos do lado árabe, duramente reprimidos pelos britânicos, e centenas de mortos entre a população judaica, deslocando mais da metade da população de judeus da cidade velha de Jerusalém e os remanescentes em Hebron dos massacres de 1929 para áreas mais densamente povoadas pela população judaica.

Os árabes, então, recusaram-se a pagar impostos, engajaram-se em atos de sabotagem e a liderança árabe radical combateu com a mesma intensidade britânicos, judeus e árabes moderados, até ser finalmente desbaratada pelo governo mandatário. Uma parte de seus líderes foi presa, outros conseguiram escapar e, no exílio, viriam a incitar a liderança iraquiana contra os britânicos e a poiar a política nazista nos territórios por estes ocupados após o início da Segunda Guerra Mundial.

Os efeitos dos conflitos com os árabes sobre a liderança judaica também foram profundos e duradouros. Por um lado, consolidaram-se as forças de segurança, oriundas dos voluntários que haviam lutado junto aos britânicos. Por outro, surgiram os grupos dissidentes que seriam responsáveis pelas ações terroristas no futuro.

Após a repressão britânica da revolta árabe, os britânicos concluíram que a imigração judaica teria de ser severamente limitada. Às vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, baixaram uma série de restrições tanto à imigração quanto à aquisição de terras pelos judeus, tentando apaziguar os árabes e evitar seu alinhamento com a Alemanha. A liderança judaica se viu diante de um dilema: tinha de se opor à política britânica e lutar pela continuidade da imigração, ainda que de forma ilegal, mas, ao mesmo tempo, necessitava fortalecer os britânicos para impedir que os alemães ocupassem a região. Assim como já ocorrera na Primeira Guerra Mundial, quando uma grande quantidade de membros da população judaica alistou-se nas forças britânicas, levando-os a adquirir experiência que seria inestimável quando do confronto com as forças árabes, após a retirada britânica.

Quando a guerra terminou, em 1945, tornaram-se amplamente conhecidas as consequências da política alemã de extermínio e surgiram enormes pressões para a abertura das fronteiras do mandato à imigração dos sobreviventes. Nos anos seguintes, a Grã-Bretanha, vitoriosa, mas enfraquecida, entregaria a questão às Nações Unidas, que votariam a partilha do território para a criação de dois Estados independentes. Os judeus concretizaram o que haviam entendido como a principal designação do mandato, anunciando a criação do Estado de Israel após a retirada dos soldados britânicos do território, enquanto a Jordânia, apoiada pelos britânicos, incorporou grande parte da área destinada ao Estado palestino. 

Ainda em 1956, França e Grã-Bretanha tentariam manter sua influência na região através da intervenção na Guerra de Suez – mais uma vitória militar que se transformou em derrota diplomática. A partir de então, os Estados locais, frutos das maquinações das potências europeias, passariam a ser os principais protagonistas da política internacional no Oriente Médio.

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