Quando a Conferência
de San Remo estabeleceu o mandato francês para a Síria e o Líbano, em 1920, os
britânicos receberam o Mandato para a Palestina, incluindo a Transjordânia.
Quando Faisal foi desalojado da Síria pelos franceses, seu irmão Abdulah reuniu
um pequeno exército e anunciou sua intenção de expulsar os estrangeiros; mas a
caminho do norte estabeleceu-se em Amã, na Transjordânia, consolidando seu
controle sobre as tribos e vilarejos do território que os britânicos haviam
separado da área que abrangia a totalidade da Palestina, destinada ao mandato.
No território
remanescente, a oeste do rio Jordão, os britânicos teriam de confrontar as
consequências das promessas concomitantes feitas aos sionistas e às lideranças
árabes durante a guerra e, em 1921, promulgaram uma constituição baseada na
cooperação entre árabes e judeus. A impossibilidade de criar um Estado
constitucional, entretanto, perpetuou o controle britânico, mas tentando cooptar
as duas comunidades na administração do território. A liderança judaica
engajou-se prontamente, porém os árabes se recusaram a cooperar. Assim, ao
longo dos anos seguintes, fortaleceram-se as instituições judaicas que dariam
origem ao governo israelense em 1948, enquanto a liderança árabe palestina
mantinha-se dividida, rejeitando a imposição do Mandato inglês.
A imigração judaica
na Palestina aumentou progressivamente até 1925. Sua interrupção eliminou a
principal razão para a tensão entre árabes e judeus até que a Crise de 1929
voltasse a alimentá-la. Nesse mesmo ano, ocorreram os grandes confrontos que
culminariam com o massacre da comunidade judaica em Hebron, a emergência do
mufti de Jerusalém, Amin al-Husayni, como líder dos árabes palestinos e com a
percepção britânica de que não seria possível acomodar os árabes com a
continuidade da imigração judaica. A partir daquele ano, a política britânica
para a região direcionou-se cada vez mais para o apaziguamento árabe,
especialmente após a intensificação da fuga de judeus alemães perseguidos pelo
regime nazista que encontravam na Palestina o único destino viável.
Em 1936, os árabes
formaram um comitê destinado a unir seus esforços diante da liderança judaica,
e os britânicos enviaram uma delegação liderada por lorde Peel, que concluiu
pela necessidade de dividir a Palestina em dois territórios. O reinício da
violência promovida pelos árabes logo se transformou em uma guerra civil que
durou três anos, provocou milhares de mortos do lado árabe, duramente reprimidos
pelos britânicos, e centenas de mortos entre a população judaica, deslocando
mais da metade da população de judeus da cidade velha de Jerusalém e os
remanescentes em Hebron dos massacres de 1929 para áreas mais densamente
povoadas pela população judaica.
Os árabes, então,
recusaram-se a pagar impostos, engajaram-se em atos de sabotagem e a liderança
árabe radical combateu com a mesma intensidade britânicos, judeus e árabes
moderados, até ser finalmente desbaratada pelo governo mandatário. Uma parte de
seus líderes foi presa, outros conseguiram escapar e, no exílio, viriam a
incitar a liderança iraquiana contra os britânicos e a poiar a política nazista
nos territórios por estes ocupados após o início da Segunda Guerra Mundial.
Os efeitos dos conflitos
com os árabes sobre a liderança judaica também foram profundos e duradouros.
Por um lado, consolidaram-se as forças de segurança, oriundas dos voluntários
que haviam lutado junto aos britânicos. Por outro, surgiram os grupos
dissidentes que seriam responsáveis pelas ações terroristas no futuro.
Após a repressão
britânica da revolta árabe, os britânicos concluíram que a imigração judaica
teria de ser severamente limitada. Às vésperas da eclosão da Segunda Guerra
Mundial, em 1939, baixaram uma série de restrições tanto à imigração quanto à
aquisição de terras pelos judeus, tentando apaziguar os árabes e evitar seu
alinhamento com a Alemanha. A liderança judaica se viu diante de um dilema:
tinha de se opor à política britânica e lutar pela continuidade da imigração,
ainda que de forma ilegal, mas, ao mesmo tempo, necessitava fortalecer os
britânicos para impedir que os alemães ocupassem a região. Assim como já
ocorrera na Primeira Guerra Mundial, quando uma grande quantidade de membros da
população judaica alistou-se nas forças britânicas, levando-os a adquirir
experiência que seria inestimável quando do confronto com as forças árabes,
após a retirada britânica.
Quando a guerra
terminou, em 1945, tornaram-se amplamente conhecidas as consequências da
política alemã de extermínio e surgiram enormes pressões para a abertura das
fronteiras do mandato à imigração dos sobreviventes. Nos anos seguintes, a
Grã-Bretanha, vitoriosa, mas enfraquecida, entregaria a questão às Nações Unidas,
que votariam a partilha do território para a criação de dois Estados
independentes. Os judeus concretizaram o que haviam entendido como a principal
designação do mandato, anunciando a criação do Estado de Israel após a retirada
dos soldados britânicos do território, enquanto a Jordânia, apoiada pelos
britânicos, incorporou grande parte da área destinada ao Estado palestino.
Ainda em 1956, França
e Grã-Bretanha tentariam manter sua influência na região através da intervenção
na Guerra de Suez – mais uma vitória militar que se transformou em derrota
diplomática. A partir de então, os Estados locais, frutos das maquinações das
potências europeias, passariam a ser os principais protagonistas da política
internacional no Oriente Médio.
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