Ninguém acredita mais em História, com “H”
maiúsculo, mas há momentos, pelo menos, nos quais parece realmente condensada
toda a dramaticidade de uma história maior; maiúscula, pela surpreendente
coincidência de urgências práticas e também civilizatórias. A Conferência de
Bretton Woods foi um desses momentos extraordinários, nos quais os homens não
parecem perdidos apenas em confabulações mesquinhas relativas à divisão do
espólio da guerra, inclusive territorial, mas ousam olhar para o futuro mais
longínquo e tomar decisões sobre a divisão da riqueza, do poder e do
conhecimento.
A Conferência de Bretton Woods, definindo o
que se convencionou denominar como Sistema de Bretton Woods de gerenciamento
econômico internacional, estabeleceu em julho de 1944 as regras para as
relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do
mundo. Esse sistema foi o primeiro exemplo na história mundial de uma ordem
monetária totalmente negociada entre Estados nacionais.
Preparando-se para reconstruir o capitalismo
mundial enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda matava em massa, 730 delegados
das 44 nações aliadas encontraram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton
Woods, New Hampshire, para a Conferência monetária e financeira das Nações
Unidas. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo de Bretton
Woods (Bretton Woods Agreement) durante as primeiras três semanas de julho de
1944.
Naquelas semanas, as regras de um novo jogo
de controle mundial da riqueza, do conhecimento e da natureza foram
estabelecidas, consolidando uma vitória militar que desde então, sob o
imperativo da defesa do dólar e da hegemonia americana, tem apenas se reafirmado,
sobretudo após a queda do Muro de Berlim, a demonstração cabal do sucesso das
regras de convivência determinadas pelos Aliados ao final da Segunda Guerra
Mundial. Em boa medida, o Muro de Berlim surgiu para delimitar fisicamente os
territórios do capitalismo e do comunismo. A queda do Muro, em 1989, foi uma
vitória do capitalismo imposto pelos aliados ao mundo após a Segunda Guerra
Mundial. Foi também a queda do Muro que viabilizou a criação da primeira moeda
que desafiou o mesmo sistema de Bretton Woods – o euro.
Haverá outras moedas, outras engenharias
políticas e monetárias ou mesmo territórios novos, inclusive digitais, nos
quais novas moedas surgirão nas próximas décadas? Se a hegemonia do dólar
reflete a vitória aliada na guerra mundial e o surgimento do euro, a
consolidação do capitalismo no território europeu, que tipo de criações
monetárias e financeiras serão possíveis a partir da proliferação de mercados
totalmente virtuais? Relembrar e reinterpretar o significado Histórico, com “H”
maiúsculo, da Conferência de Bretton Woods é um exercício atual e, em boa
medida, ainda futurista e civilizatório.
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